Um interessante
diálogo ocorre nas redes sociais em função de casos aparentemente
desconexos que aconteceram nos últimos dias, especificamente, o caso
da banana atirada contra o jogador brasileiro na Europa e o
linchamento da mulher no litoral paulista.
A hashtag
#somostodos... foi utilizada à exaustão de diferentes formas e até
em oposição uma à outra. Pessoas diferentes, mas com a mesma boa
intenção, defenderam com veemência tanto o “somos todos”
quanto o “sou diferente”.
Inspirado pelo
pensamento complexo de Edgar Morin, quero refletir com vocês sobre a
realidade de sermos, sim, todos e ao mesmo tempo não sermos.
Não “sermos
todos” é bastante óbvio, não é? Desde o fato de nem todos
sermos pretos até a certeza de que o linchamento foi obra de alguns
ensandecidos, fica claro que fazemos parte de uma diversidade enorme
de posições e pensamento. É irreal e mesmo injusto juntar “alhos
com bugalhos” e jogar todos na mesma cova do racismo, do ódio e da
culpabilidade. Alguns, não só não são culpados como são ativos e
participantes da luta contra o racismo, a violência, etc.
Por outro lado, em
muitos aspectos “somos todos”, sim. Somos todos responsáveis
pela sociedade em que vivemos e por aquilo que nela acontece. E caso
alguém pergunte: “Mas o que eu poderia ter feito? Moro a milhares
de quilômetros do Guarujá, nunca estive lá, não conheço a mulher
morta nem seus linchadores... sempre fui contra a violência, contra
a boataria, e apoio o devido processo legal... o que eu poderia ter
feito?” A resposta imediata pode ser: “Nada”.
Mas, mesmo quem é
um ativista dos direitos humanos deve compreender que se algo assim
ocorreu é porque tudo o que foi feito até agora para impedir que
algo assim acontecesse foi insuficiente. E, nesse caso, sim, somos
todos responsáveis. Devíamos ter feito mais. Muito mais.
E o que precisa
atingir o nosso coração agora não é o horror, não é o desânimo,
não é a revolta, nem a inercia, o “não estou nem aí”, o “a
minha parte eu faço”, “isso é obrigação do governo” (da
igreja, do partido, dos outros enfim).
Precisamos é de um
sentimento de solidariedade (#somostodosum), de insuficiência
(sozinho eu não posso, mas juntos podemos melhorar), de esperança
(há de melhorar), de humanidade (reconheço a complexidade dos
problemas e o potencial de resolvê-los).
Não me sinto
culpado pela banana atirada, nem pela absurda morte de uma inocente.
Mas me sinto responsável por não ter feito mais para que coisas
assim não existissem e esse sentimento deve me empurrar a agir em
favor das respostas, das soluções, da compreensão maior entre os
seres humanos, da justiça e da paz.
Só assim valerá a
pena continuar vivendo.
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