O peso ideológico do termo “melhor” é para todos os efeitos o grande imperativo categórico da civilização ocidental: sua supremacia e sua suficiência são a única unanimidade no nosso universo plural, o último artigo de fé comum, sendo que não requer conversão e não admite questionamento.
Como disse-me Bruce Sterling, numa conferência que ele usou para infectar-me com muitas das inquietações que estou tratando aqui:
Os sucessos do progresso tornam-se problemas espinhosos para a geração seguinte: não permanecem permanentemente “melhores”. Nossos juízos de valor sobre o que é melhor são temporários, inteiramente limitados à nossa perspectiva no tempo. Não existe um “melhorômetro”; ninguém tem como medir a extensão, a amplitude e a duração de uma “melhoria”. Melhor é um juízo abstrato de valor, não uma qualidade científica; não pode ser testado experimentalmente. Ninguém sabe o que é melhor; na verdade, ninguém sabe o que é pior. É tremenda ingenuidade acreditar que cada desdobramento tecnológico é necessariamente um avanço.Ou, como ponderava Jung:
Recusamo-nos a reconhecer que toda coisa melhor é comprada ao preço de uma coisa pior.Ou Jacques Ellul:
O progresso não é uma ameaça à natureza, mas à liberdade."...
(Paulo Brabo, em "A Espada Circular" na "Bacia das Almas". Se você não ficou irresistivelmente atraído para ler todo o texto LÁ, você nunca será melhor...)