Assino embaixo. Depois deste texto, nada a acrescentar...
"O maior de todos os        escândalos
Dioclécio Campos        Júnior
Médico, é professor da UnB e        presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria        (dicampos@terra.com.br) 
Os escândalos envolvendo        políticos que têm biografia já não emocionam tanto. Tornaram-se habituais,        logo previsíveis. Numa sociedade que não cultiva a ética, pode-se esperar        de tudo. Os comportamentos que deveriam ser exemplares nivelam-se na vala        comum da esperteza. Contaminam-se nos terrenos pantanosos da imoralidade.        A vergonha como reação aos próprios desvios de conduta deixa de existir. A        única que sobrevive é a de ser honesto, como profetizou Ruy Barbosa.      
Os meios de comunicação mantêm o tema na pauta. Prestam serviço. O        espanto popular é despertado. A ira coletiva é aquecida. A indignação        estimulada. Mas, como outros interesses falam mais alto, o ímpeto        midiático arrefece de repente, não mais que de repente. O objetivo inicial        é estancado, o povo iludido, a ética mutilada. Tudo continua como dantes        no Congresso Nacional ou no governo de Abrantes. Até o próximo escândalo.      
As denúncias de corrupção escancaradas pela imprensa são        frequentes, muito repetitivas. Soam monótonas. Mostram, com abundância de        recursos televisivos, o quanto alguns políticos e seus apaniguados ganham        de dinheiro público sem fazer força. Sem trabalhar. Ilegalmente. Como        ocupam postos sem exigência de qualificação alguma. Como distribuem        privilégios aos parentes e amigos mais próximos. Como transacionam na        ilicitude de forma cada vez mais cavilosa. As nomeações são espúrias, os        contratos secretos, as negociatas repugnantes. Mas, de tanto ver prosperar        essa vergonhosa rotina sem qualquer perspectiva de mudança, a sociedade já        reage menos, quase não se impressiona. Cai o ibope. É novo desafio para a        mídia no país.
Talvez tenha chegado o momento para que os meios de        comunicação mudem de estratégia. Sejam inovadores. Mais criativos.        Explorem outro tipo de escândalo, de sentido oposto, que surpreenda a        população. Talvez seja hora de revelar, com grande impacto, que os        profissionais da saúde e da educação trabalham duramente sem receber quase        nada de salário. Sem qualquer privilégio, desprovidos de segurança,        estressados e adoecidos diante de condições humilhantes que enfrentam para        cumprir a nobre missão que lhes cabe desempenhar na sociedade brasileira.      
A opinião pública agora sabe que o motorista do presidente do        Senado ganha R$ 12 mil por mês. Todavia, desconhece que o pediatra        encarregado de assistir os recém-nascidos país afora, passar noites        indormidas no tumulto dos prontos-socorros ou estafar-se nas enfermarias e        ambulatórios abarrotados do SUS, não recebe mais que R$ 2 mil por mês. A        nação ignora que o chofer do Senado só teve de submeter-se à prova de        habilitação do Detran para chegar ao nível salarial mencionado. O pediatra        venceu difícil vestibular, cursou seis anos de medicina, mais dois ou três        anos de residência médica, prestou concurso nacional para obter o título        de especialista e só conseguiu ingressar no serviço público mediante        aprovação em outro concurso. Um enorme esforço para ganhar seis vezes        menos que o ilustre motorista.
O povo também ignora que a consulta        paga pelos planos de saúde ao pediatra, decisiva para garantir uma geração        de adultos saudáveis, equivale ao custo de um corte de cabelo. Tampouco        tem conhecimento de que o professor universitário, detentor de titulação        acadêmica e produção científica de qualidade, responsável pela formação de        recursos humanos diferenciados no país, requisito para o desenvolvimento        da sociedade, trabalha em regime de dedicação exclusiva para receber,        quando muito, metade dos vencimentos do motorista do Senado. Os educadores        em geral, mormente os que se entregam à educação básica e ao ensino        fundamental, aplicados à valiosa tarefa de formar futuros cidadãos,        sobrevivem com bem menos que metade do salário citado.
A ministra        Dilma Rousseff aprovou bonificação que permite remunerar, com o devido        valor, os engenheiros do Dnit. Alegou, coberta de razão, que, se não o        fizesse, deixaria de contar com técnicos competentes para fiscalizar as        obras do PAC. Esqueceu-se, contudo, de dizer que os educadores empenhados        em formar cidadãos, incluindo engenheiros, bem como os cuidadores da saúde        do povo brasileiro, precisam ser remunerados com igual respeito. Caso        contrário, faltarão engenheiros sadios, à altura das exigências do Dnit.      
Não há escândalo maior no país. Nem matéria melhor para a mídia.        Profissionais decisivos para o bem-estar geral da nação trabalham todos        fora da lei. Sobrevivem com salários que não cobrem os níveis elementares        da dignidade humana. É o maior de todos os escândalos." 
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Um comentário:
É por isto que ultimamente, não tão ultimamente, tenho me sentido envergonhada da nossa nação...
Estes atos secretos são de estarrecer e envergonhar qualquer cidadão que tenha um pouco de ética!!!
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