sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Meu voto em 2022

Estamos a menos de um mês das eleições e sinto-me no dever de esclarecer meu voto, visto que a terrível polarização política que vivemos hoje tem me afastado de familiares e amigos queridos. Não quero deixar meu voto "no vazio", um voto sem embasamento, sem ponderação, enfim, um voto cego.

Primeiro, devo declarar em quem não votarei e dar minhas razões.

Declaro que não votarei no atual ocupante do Palácio da Alvorada. E a decisão de não votar nele não é intempestiva, nem tem relação com a pessoa, caráter e atitudes pessoais dele ou de sua família.

Não voto em Bolsonaro porque discordo profundamente das suas posições, declarações e ações políticas. Por exemplo:

1- Sou frontalmente contra a sua política armamentista. Como admirador de Gandhi, Luther King, Mandela, Thoreau, repudio como absurda, desumana e perniciosa a ideia de que pessoas armadas podem, de alguma forma, contribuir positivamente para a Paz. As estatísticas mundiais, os estudos sérios já feitos demonstram cabalmente o equívoco cruel que é defender o armamento da sociedade;

2- A forma como o seu governo encara a questão ambiental, a preservação da Amazônia, da fauna e flora, e o problema das mudanças climáticas, sujeitando-as à aspectos meramente econômicos, é, para mim, criminosa, irresponsável e trágica;

3- O comportamento do governo em todas as áreas relativas às minorias, sejam indígenas, LGBTQIA, religiosas, étnicas sujeitando esse assunto importante à economia, doutrinas religiosas ou puros e simples dogmas estapafúrdios é de uma falta de humanidade, compaixão e bom senso que beiram a Idade Medieval;

4- As políticas impostas à Educação, Saúde e Cultura, três áreas de suma importância para uma sociedade saudável foram desastrosas nestes 3 anos e meio de desgoverno, causando prejuízos inestimáveis a toda a população. O SUS, o combate ao Covid19, a política educacional no três níveis (fundamental, médio e superior), e a falta de incentivo à produção científica e cultural foram desastres intencionais que causaram dor, sofrimento e atraso ao brasileiro;

5- O comando político do governo, aquele que trata do embate entre o poderes da República (porque numa Democracia há sempre um confronto entre Câmara, Senado, Justiça, Executivo, nível federal, estadual e municipal), que deveria procurar sempre uma solução entre o possível e o desejável, nunca foi feito com seriedade, honradez, ética e com o melhor interesse do povo em mente;

6- O combate à Corrupção, tido, havido e cantado a plenos pulmões pelo chefe do Executivo só cresceu e esparramou-se pelo país. Citar apenas os intimamente relacionados ao governo seria uma tarefa longa e cansativa;

7- E não menos importante é a deplorável política econômica neo liberal e insensata, que leva a ganância, o egoísmo e a busca do lucro a qualquer preço à categoria de "valores supremos", quando, na realidade, só provocam miséria, dor, e o esfacelamento da sociedade como comunhão de seres humanos.

Para terminar, não bastasse toda essa gama de obstáculos a meu voto neste governo, há a infinidade de provas de que o titular da cadeira de Presidente não possui a mínima condição moral, ética e de civilidade para ser o estadista que esse país precisa. Desde muitos anos antes de eleger-se Presidente, Bolsonaro já demonstrava falta de caráter, ética e moral para ser síndico de condomínio. É uma vergonha.

Em quem votarei?

Não tenho medo do comunismo, ente abstrato, anacrônico, perdido no tempo, que serve de argumento pobre para pessoas mal informadas ou mal intencionadas. O socialismo democrático é alternativa moderna e viável a esse neoliberalismo burro e selvagem. Portanto, voto na esquerda.

A esquerda, para mim, é sempre uma possibilidade, uma esperança de mudança, de amadurecimento, de generosidade, de solidariedade e de crescimento do espírito humano na sociedade. Nem sempre tem sido bem sucedida, mas de todos os males possíveis, ainda temos um saldo muito favorável em todas as administrações de esquerda que tivemos. Cometeram erros? Sim, muitos. E sempre gritei contra o que achei errado. Mas nunca perdi a esperança de que algo melhor pudesse advir de uma política governamental de esquerda. Pois como bem diz Pepe Mujica: "O que é ser de esquerda, afinal? É uma posição filosófica perante à vida, onde a solidariedade prevalece sobre o egoísmo"

Sem dúvida, preferia votar em uma nova liderança (Boulos, Dino, Haddad, etc) e tem gente nova jovem boa nos diversos partidos de esquerda. Quem sabe no futuro próximo.

Nesta eleição votarei no Lula13. E por que? Porque não me passa pela cabeça a possibilidade de termos um novo desastre governamental como foram esses últimos 6 anos, desde o golpe contra Dilma. 

Espero que meus amigos me leiam com atenção e espírito desarmado para, quem sabe, enxergar o que eu enxergo: que um novo governo é necessário e com Lula, possível.



2 comentários:

Shimada disse...

Uma análise muito lúcida da situação. Parabéns, Rubens!

M.Ignês Scavone disse...

Parabéns pelo sincero e bem analisado texto.