"O Brasil precisará se nordestinizar ou sucumbirá à barbárie do fascismo.
Muitas análises já surgiram após o resultado do 1° turno, e não vi nenhuma que levasse a heterogeneidade a sério.
O Brasil vem sendo homogeneizado a partir do Sudeste há muito tempo, quanto à produção de subjetividade.
No século XXI o Brasil nordestino, que inclui o Norte, por afinidade cultural e pela marcante migração nordestina durante o ciclo da borracha, desenvolveu-se em sentido mais democrático, plural, embora ainda muito desigual, por herança colonial.
O Brasil do Sudeste/Sul, que inclui o Centro-oeste povoado por gaúchos e paulistas, desenvolveu-se no sentido elitista, preconceituoso em relação a pobres, negros, nordestinos.
Se a consideração da heterogeneidade impede generalizações homogeneizantes, nem por isso podemos subestimar a força de homogeneização fascista que cresce no Brasil do Sul (incluídos Sudeste/Sul/Centro-oeste), enquanto o Brasil do Norte (incluídos Nordeste/Norte) se afirma mais afinado com tradições populares, derivadas das matrizes culturais indígenas e africanas.
Como pernambucano, filho e neto de dois negros, que completou 18 anos saindo de Recife no final da ditadura militar pra estudar no Sudeste, após conhecer (ao vivo) figuras como Paulo Freire, Ariano Suassuna, Dom Helder, Miguel Arraes, Gregorio Bezerra, Cacique Chicão Xucurú, e por leituras, outros autores como Manuel Bandeira, João Cabral, Josué de Castro, eu me vi confrontado com o preconceito carioca e paulista, que me tratava como "paraíba" (RJ), "baiano" (SP), "arataca" (durante os anos de estudante no ITA).
Fui então despertando para uma auto-estima de nordestino, nascido inclusive no dia em que se comemora o "Dia do Nordestino", 8 de outubro, data que cresci vendo-a nas pichações de muros de Recife como "Movimento Revolucionário 8 de Outubro", nome do MR-8, um dos principais movimentos de luta contra a ditadura militar.
Após muitos anos de formação política e intelectual, e 18 anos de docência em nível superior, vejo que aquela antiga diferença se acentuou, e o Brasil do sul vem se tornando hegemonicamente fascista (particularmente por suas lideranças políticas) enquanto o Brasil do norte vem se tornando predominantemente progressista (pelas forças populares).
Com isso, ainda que não deseje a divisão do Brasil, vejo que tal tendência vem se acentuando.
Então considero que um devir-nordestino é o que pode livrar o país de um rumo reacionário e do separatismo."
Por Ivan Maia, Prof. UFBA
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