Em Campos do Jordão as caminhadas são um “must”, sempre morro acima ou morro abaixo, e para nos fornecer energia meus pais compravam caixas de um bastão de chocolate chamado "Batom" - que ainda hoje existe - e lá íamos nós.
Uma das caminhadas favoritas, em parte porque as ladeiras eram poucas, mas também porque o caminho era lindo, levava-nos ao Hotel Toriba - um cinco estrelas de "babar" - que tinha vários atrativos: uma vista monumental, uma arquitetura belíssima e um jardim enorme e extremamente bem cuidado. No verão, o jardim enchia-se de flores e com elas vinham os beija-flores. O hotel então instalava alguns bebedouros para aves ao longo da passarela do jardim. Assim, podíamos observar os passarinhos bem de perto, junto às flores ou sugando água nos bebedouros.
Uma vez, eles estavam em grande quantidade, e acostumados com a inofensiva presença humana, nem se incomodavam em fugir, quando passávamos por perto. Aproximei-me de um bebedouro e em instantes os bichinhos, que haviam voado ressabiados, voltaram e continuaram a beber água em vôo imóvel, típico dos beija-flores. Metido a besta, como sempre, coloquei o dedo indicador esticado na horizontal bem abaixo de um bico de água e esperei. Logo uma ave veio beber neste bico do bebedouro, as asas em movimento, bebia sem se apoiar em nada. Mas percebeu que logo abaixo dele havia um dedo firme, imóvel. Então, lentamente, baixou uma das patas em direção ao dedo. Pousou-a, firmou-se, mas continuou agitando as asas. Resolveu que valia a pena arriscar-se e pousou a outra pata, ainda voando. Como viu que eu estava resoluto em não me mexer, fechou suas asas e sorveu alegremente a água sem gastar energia batendo asas. Quando ficou satisfeito, voou de volta para as flores, sem uma palavra de agradecimento.
Mas eu, eu estava extasiado de alegria...
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