quarta-feira, 4 de maio de 2016

Edgar Morin: Capitalismo, Ecologia e Alimentação

"Com sua lógica de rentabilidade a curto prazo, as produções de monoculturas industrializadas não levam em conta os desastres climáticos, ambientais e sociais que em parte elas provocam.
Assim, o desenvolvimento da agricultura e da pecuária industrializadas destrói as culturas de subsistência, reduz a biodiversidade, devasta florestas, degrada o solo. Esse desenvolvimento não somente provocou devastações ambientais consideráveis, entre elas a miséria, a exclusão, as migrações. Ele continua a promover a desertificação das zonas rurais e a morte dos camponeses; ele aumentou as desigualdades gritantes entre países ricos e países pobres.
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Acrescenta-se a isso o neocolonialismo agrário, que, a partir de 2008, efetuou a compra massiva de terras no hemisfério Sul por empresas do Norte, a fim de satisfazer um consumo exterior... As terras se tornaram ativos rentáveis para os capitais das bolsas de valores. Em um ano, dezenas de milhões de hectares representando, por vezes, porcentagens elevadas dos países do Sul, passaram para o controle de alguns grandes grupos.
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A transformação da terra em bem de mercado, por meio da captação de riquezas e de rendas, tornada lícita pelos contratos "voluntários" concluídos em uma relação desigual de forças financeiras, técnicas e jurídicas, acelera o desemprego por meio da mecanização, da proletarização, da migração e do desaparecimento irreversível da metade da humanidade rural e seus saberes.
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Finalmente, a crise agrícola, que atinge sobretudo os camponeses desenraizados e habitantes do Sul, provém dos efeitos da mundialização de tripla face (globalização, desenvolvimento, ocidentalização), da expansão descontrolada da economia capitalista, com a extensão da agricultura industrializada e todas as suas consequências."

(Morin, Edgar, "A Via para o futuro da humanidade", ed. Bertrand Brasil, p 275 - 277.)