quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sobre as eleições

O Dr. Dioclécio Campos Júnior é médico, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, e cronista regular em um jornal de Brasília. Nesta semana em Natal, onde Elaine participou de um curso de atualização, o Dr. Dioclécio lançou sua coletânea de artigos, intitulado Até Quando?, pela Ed. Manole.
O primeiro artigo, que dá nome ao livro, será transcrito na íntegra logo mais, visto que tem relação com postagens que fiz há pouco sobre o mesmo tema, abordado pelo cantor Gabriel, o Pensador.
Neste momento, creio ser mais relevante trazer exertos do texto intitulado "Democracia de Conveniência", para o qual peço a atenção do meu caro leitor e amigo.
Reflita com Dr. Dioclécio. Vale a pena!!!

"Democracia de Conveniência

Vem aí as eleições. Todo cuidado é pouco. A confusão de conceitos políticos é o prelúdio da decadência social. É imperceptível à maioria das pessoas, mas friamente planejada pelos donos do poder. Os governos valem-se da correria em que o cidadão se consome na luta diária para retirar-lhe direitos e impor-lhe deveres. Utilizam-se da propaganda oficial como estratégia de alienação. Desestimulam a leitura reflexiva. Penetram e dominam as consciências por meio de efeitos especiais. Subordinam irreverências. Estancam inovações. Estigmatizam o pensamento crítico. A sociedade torna-se uniforme, sem graça, sem viço, vítima de uma espécie de "macdonaldização" de valores embalados no mesmo pacote, de igual sabor e tempero. É a face democrática do totalitarismo dos dias atuais.

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Os governos imaginam-se entes à parte [do povo] e agem como se o fossem. Fazem o que querem, mesmo sabendo que o único ente verdadeiro é a sociedade civil que os elege. Deveriam subordinar-se a quem os escolhe porque exercem função delegada. Não podem ter vida própria. São designados pelo povo para administrar, em seu favor, os bens e interesses coletivos, muito embora deles se apoderem como propriedade privada. Ignoram os direitos dos eleitores. São transitórios, mas revelam sempre a intenção de perpetuar-se.

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A concepção clássica de democracia não se aplica, por isso mesmo, aos governos brasileiros. Sejam militares ou civis. Aos primeiros, pela natureza autoritária de sua formação. Aos segundos, pela identificação com a elite dominante ou pela cooptação que os coloca a serviço dela. O resultado é o mesmo. O regime que vivemos é tudo, menos democrático.

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Na falta de governos do povo, pelo povo, e para o povo, não cabe falar em democracia no País. O regime democrático supõe condições dignas de vida para todos. Não para poucos. Não basta estar obrigado a votar para ser cidadão. É preciso comer mais de duas mil calorias por dia, habitar, moradia espaçosa, salubre, segura. É preciso ter acesso à educação e saúde de qualidade, lazer, atividade cultural, trabalho digno [e remuneração idem], transporte coletivo decente, segurança. Nossa democracia é conceitualmente errada e politicamente incorreta. Exclui o povo. É regime de conveniência. Há que mudá-la."

Obs: entre colchetes, acréscimos meus.

2 comentários:

Alice disse...

...Estigmatizam o pensamento crítico. A sociedade torna-se uniforme, sem graça, sem viço, vítima de uma espécie de "macdonaldização" de valores embalados no mesmo pacote, de igual sabor e tempero...

isso me cala a alma.



Grande texto!!


bjus

carmen disse...

Ultimamente não estou coneguindo ver uma luz no fim deste túnel político brasileiro; uma meleca!!!Argh!