É inegável que deus é um conceito presente no psiquê humano. Em todos os tempos, lugares e culturas, homens conceberam uma divindade, e as possíveis exceções só confirmam a regra. Temos todos uma ideia de deus. Até mesmo os ateus, pois para negar a sua existência devem, obrigatoriamente, construir ou aceitar que tal "deus" - conforme o concebem - não existe.
Quando Saramago nega a existência de deus, baseando-se nas "insanas" características divinas mostradas pelos livros bíblicos, ele, na verdade, contrapõe essas características com "algo" que ele supõe seria aceitável para um ser divino: a perfeição.
Perfeição essa concebida dentro dos parâmetros de Saramago, que eu não sei quais são, mas estão lá.
Para ser aceitável, como teria deus que ser? E aí cada um de nós faz uma lista muito particular: "deus é amor", "deus é criador", "deus é energia", "deus é equilíbrio", "deus é emoção", "deus é racional", "deus é esotérico", "deus é o mercado", "deus é o sexo", e por aí vai. Milhões, bilhões de listas de como deus deve ser.
O que minha vivência de meio século com a Bíblia me mostrou é que DEUS - assim, com letras maiúsculas - está muito além do que pode alcançar a minha mente. E, parodoxal, muito mais perto de mim do que estão os nossos tantos deuses.
É essa aparente contradição ontológica de DEUS que torna difícil, e talvez impossível, a aceitação por pessoas como Saramago. Porque para aceitar um deus assim, nós, humanos, temos que admitir nossa finitude, nossa dependência, nossa incompletude, nossa falta de fé. Isso, para mim é muito, muito difícil. E, para muitos é intolerável.
Minha adesão a DEUS é a adesão a um deus que não eu conheço, mas me conhece; a quem não sirvo, mas me serve; a quem não amo, mas me ama; a quem não guardo, mas me guarda; a quem não busco, mas me busca; a quem não concebo, mas me concebeu; a Quem eu sou grato pela vida e esperançoso de um dia conhecê-Lo.
Será isso tão insano assim?
Um comentário:
Muito insano, como digo sempre, esses ateus não param de falar de Deus.
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