quarta-feira, 21 de agosto de 2019

A delícia e o sofrimento que é ler Edgar Morin

Estou no fim de "Um Ano Sísifo", diário da vida de Edgar Morin, escrito em 1994.
É o terceiro diário de Morin que leio. "Diário da Califórnia" (1969) e "Chorar, Amar, Rir, Compreender" (1995), todos publicados pela ed. SESC, foram os outros. Dos seus diários, só me falta ler "X da Questão - O Sujeito à Flor da Pele" (1962-1963).
Apesar de já ter lido 2 diários, esse terceiro me traz prazeres e sofrimentos novos em sua leitura. 
A situação da ex-Iugoslávia e de Ruanda, com seus genocídios incríveis, além do "beco sem saída" político em que se encontrava a França (na visão de Morin) e o mal estar que sente por morar em Paris criam um clima melancólico que perpassa o texto em entra pelos poros. 
Nesse clima, o autor se manifesta contrariado pelas idas e vindas de seus afazeres, pelas contradições que enfrenta nos sentimentos, pensamentos e ações que realiza. E que ele, honesto, não esconde do leitor.
É uma forma de alívio saber que uma mente brilhante como a de Morin - talvez a mais brilhante dos últimos 80 anos - passe por dilemas e contrariedades, até comezinhas, como todos nós. 
Em suas mais de 500 páginas, há tesouros de valor incalculável, alegrias, tristezas, curiosidades, reflexões, e até trechos cômicos (sim, os pensadores também apreciam piadas!).
"Posso afirmar que é nos meus diários que dou o melhor de mim mesmo: são observações, reflexões, julgamentos nos quais me encanto ou me revolto"...  E o leitor pode se encantar ou revoltar-se junto... um privilégio!!!

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