José Saramago, o escritor em língua portuguesa mais aclamado da atualidade, ganhador de prêmio Nobel de literatura em 1988, dá uma pequena entrevista, como mostra o Yahoo Videos, em função do lançamento de seu mais recente romance, "Caim". Aos 86 anos, Saramago fala com franqueza da sua dificuldade em aceitar "Deus".
Lá pelas tantas ele diz que "tudo aquilo" (na Bíblia, especialmente no Pentateuco) "é absurdo e, em alguns casos, criminoso". Como exemplo ele cita o episódio em que "Deus manda Abrão matar seu filho Isaque para provar a sua fé. Só isto deveria apagar da nossa idéia, da nossa cabeça, a idéia de Deus." O episódio é relatado em Gênesis, capítulo 22.
Para encerrar a entrevista ele diz que a conclusão que se pode tirar, "a única coisa que se pode dizer é que não se pode confiar em Deus."
Eu sinceramente espero não estar fazendo a "leitura" dos livros de Saramago tão mal quanto ele faz dos livros bíblicos...
Reservo-me o direito de gostar de seus livros, de admirar a personalidade intrigante do autor, e de não confiar em Saramago.
10 comentários:
Eu sempre acho muito interessante como os supostos ateus se preocupam tanto com as atitudes de Deus...
Afinal, se Deus não existisse mesmo, como eles dizem, para que se preocupar?
Rubem Alves diz que há pessoas que emburrecem quando escuta o termo "Deus". Ele fala isso com relação ao pessoal piegas que objetiva Deus e vive em função desse mito. Mas isso se aplica simetricamente a opiniões como essa do mestre Saramago, cujos livros são realmente bons. Ele esquece da experiência - sensorial mesmo - com a qual a Vida se mostra maior que as palavras, e fica com as palavras, estórias, lições muitas vezes transmitidas de forma viciada. Pra ele, Deus são essas quatro letras...
Ou o homem está cheio de ironias, quem sabe ?
é controverso ou abraão não confiou em Deus?
Vc não considera absurdo Deus, na figura humana, de velho bonzinho e justo, que o pensamento cristão disseminou, praticar esses atos de teste de fé?
Rica, se vc entender como fato "ipsis literis", sim, é estranho. Muito estranho a tal ponto de dar margem à pergunta: Por que motivo a narrativa nos conta esse episódio? Hein, hein? Por que?
Prefiro, com Girard, apagar da minha ideia apenas o Deus que mandou matar Isaque. O que veio logo depois, e aboliu o sacrifício e tornou a violência desnecessária e anacrônica, a esse concedo meus joelhos e meu silêncio.
Não sei o contexto dessa fala do Saramago. Mas a minha pergunta é qual idéia de Deus devemos apagar de nossa memória?
Rubinho,
Assim como Saramago, Voltaire, escritor e filósofo francês, que foi um ácido crítico dos dogmas cristãos, mas no leito de morte disse: "Eu, o que escreve, declaro que havendo sofrido um vômito de sangue faz quatro dias, na idade de oitenta e quatro anos e não havendo podido ir à igreja, me confessei com o pároco, se Deus me perdoava, morro esperando a misericórdia divina que se dignará a perdoar todas minhas faltas, e que se tenho escandalizado a Igreja, peço perdão a Deus e a ela. Assinado: Voltaire, 2 de março de 1778". Parabéns pela postagem.
Abraço.
Amici,
Agradeço os comentários. Acho que dão margem a uma nova postagem sobre a nossa ideia de Deus. Vou refletir sobre o que disseram e quem sabe sai mais alguma coisa...
excelente!
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