Diz o ditado que o homem, para se realizar, deve criar um filho, plantar um árvore e escrever um livro. Por muitos anos, acalentei a idéia de que poderia, um dia, ter algo para dizer, e quando este momento chegasse, escreveria um livro que faria diferença na vida das pessoas, que mudaria para melhor, mesmo que um pouco, o mundo. Mas, minhas certezas na vida foram se esvaindo à medida que o tempo passava, e as dúvidas aumentaram com a idade. Consolaram-me as palavras dos Engenheiros do Havaí na bela “Infinita Highway”:
“...eu posso estar completamente enganado,
eu posso estar correndo pro lado errado,
mas a dúvida é o preço da pureza,
e é inútil ter certeza...”
Tenho a esperança de estar na direção certa, que um dias os motivos serão desvelados e tudo passará a ter significado. No entanto, neste ponto, não possuo lições de vida pra ensinar, nem a habilidade de um novelista. Passei a invejar os autores que escreviam bem, com o conteúdo de quem sabe o que faz. E quase desisti do velho provérbio.
Somente agora, depois dos 50 anos de idade, percebi que a vida fala por si – não preciso ter uma mensagem, ou um roteiro de novela para escrever algo. Devo, especialmente, aos escritos de Rubem Alves (“Um livro são pedaços de mim espalhados ao vento como sementes, para irem nascer onde o vento as levar.” – Aprendiz de Mim), a coragem de ousar por no papel o que me atrevia, no máximo, a relatar aos amigos, em rodinhas para jogar conversa fora. Portanto, caro leitor, escrevo sobre o que vivi, ri ou chorei, e que, de algum modo, ficaram na memória. Não me move a pretensão do ensino, nem a ilusão da criatividade, nem o impulso artístico. Nas palavras de Sá & Guarabyra:
“um cavaleiro na estrada sem fim,
um contador de uma historia de mim,
vivo do que faz meu braço,
meu braço faz o que terra manda,
voa tristeza, voa tempo, voa vento... voa...”
(“Quem Saberia Perder”).
Não sei quantas pessoas irão ler estas reminiscências, nem o que vão pensar a respeito, mas se minhas lembranças, reflexões e a maneira como eu as conto fizerem o leitor sentir um sorriso maroto surgir no canto da boca, ou uma lágrima transbordar nos olhos, serei agradecido a Deus por me impor este fardo.
Este foi o primeiro texto, postado no "O Tempo Passa", blogue dedicado a recordações, com o qual comecei a vida de blogueiro, no dia 23/03/2006, há exatos 790 postagens. Reitero, hoje, minhas palavras.
10 comentários:
Agradeça então a Deus pelo fardo mano. Sorrisos e lágrimas não faltaram por aqui.
Que lindo, e que bom que escreves e que existe meu caro... pois a mim me emociona, e muitas vezes me faz continuar...
se puder confirme sim de que espécie é a Aurora! hj achei engraçado, ela tomou maior banho no pote de água dela! banho para valer!!!!! cheguei ela toda molhada hahahahha
ah e pergunte para tua filha como faço para ensiná-la a se alimentar sozinha ! tá chegando a hora dela...? abraço Itala
Alguém precisa escrever as coisas e não restam muitos capazes de fazê-lo com alguma isenção e, certamente, vocÊ é um desses.
Até agora,Missão Cumprida,meu caro
Indy!!!! Que venham novas aventuras,suspenses,reflexões....
Vida longa, camarada.
Não sei isso é coisa que se diga, cara, mas o que você considera fardo imposto por Deus é para mim - vindo da sua direção - leve e bom de portar. Graças.
Rubao, obrigado. Certamente conseguiu cumprir seu desígnio. E este desígnio era mais simples que mudar o mundo ou ensinar - era o de viver. Quem pode pensar enquanto jovem (vc há muitos anos atrás) que viver bem termina por mudar o mundo e ensinar?
Que escrever é preciso, desnecessário dizer. Confesso que até hoje não havia ido até lá. O mesmo que disse ha um outro "blogueiro": não sei,ou sei, porque faz-se visitas muito rapidas,olhamos o escrito hoje,no maximo uma roladinha e nos consideramos "amigos da blogosfera"
Tenho tentado reeducar-me,ir mais além, sair da curiosidade e passar ao interesse.Mesmo sem olhar nos olhos.
Rubinho:
Não creio que seja um fardo para você; antes, um prazer, agora uma necessidade...
bjs
Sua meta de 2006 está sendo alcançada com louvor!
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