Publicação do Conselho Federal de Medicina em julho de 2010 informa que “em dez anos, planos de saúde aumentaram mensalidades tres vezes mais que os honorários médicos”.
Essa flagrante injustiça tem um só culpado, justamente quem posa de vítima: o médico.
Falta à classe médica - e talvez a outras também, mas com certeza a ela - a consciência da responsabilidade e do poder que tem nas mãos. A responsabilidade de cumprir com tal nobre missão - como proposta pelo juramento de Hipócrates - da mais elevada importância e o poder que tem de definir seu próprio destino.
A responsabilidade é mal assumida pela classe médica, pois mesmo ciente de graves erros médicos e por igualmente graves desvios éticos por colegas de profissão, falha em denunciá-los aos órgãos competentes, torna-se assim cúmplice de verdadeiros criminosos, impede que a moralidade e competência vençam na profissão.
O poder que tem é ignorado. São médicos! Há algo que aproxime mais alguém do poder divino - aos olhos da população - do que os médicos??? Mas, não! Falham fragorosamente em usar esse poder para confrontar - e corrigir - os poderes econômicos que teimam em fazer da vida humana, mercadoria, e da doença e sofrimento alheio, fonte de lucro.
Para cumprir com sua responsabilidade moral bastava usar os instrumentos à mão: a denúncia aos órgãos fiscalizadores de classe - Conselhos regionais e Comissões de Ética.
Para deixarem de ser vítimas falsas do poder econômico, suficiente dar um “basta!” coletivo e anunciar à sociedade a farsa dos planos de saúde, propondo não atender mais pelos planos enquanto as empresas não sentarem à mesa para acordar uma remuneração mais justa. Para ter a população a seu lado, é suficiente tratá-la como “seres humanos”, não mais como “doenças”, “pacientes”, “números”, ou meros estorvos, como é comum nos consultórios, onde uma consulta não dura mais do que 5 minutos e o médico, por vezes, nem chega a olhar nos olhos da pessoa, antes de despachá-la com uma lista enorme de exames a fazer. Essa a razão para o baixo conceito da classe médica na sociedade. Atendidos que fossem dignamente, e os associados de planos de saúde seriam os primeiros a apoiar a classe médica contra a atitude mesquinha e perversa que os planos de saúde impõem aos médicos.
Casado com médica, sei do sacrifício que os médicos fazem em favor da profissão. Oito a dez anos de estudos, incontáveis horas de plantão hospitalar, dor no coração com a perda eventual de um paciente, a luta interminável para se manter atualizado, o sacrifício da vida familiar... E ainda são tratados como mão-de-obra barata pelos detentores do capital. Seria fácil alterar a situação. Bastaria serem realmente médicos!!!
3 comentários:
Para que haja a figura do "Plano de Saúde" privado há a necessidade de não haver um cuidado com a saúde adequado pelo poder público. Médicos e pacientes se dão mal e contribuem para isso, não denunciando as falácias, enquanto os planos enchem as burras de tanto ganhar dinheiro.
Seriam os maus médicos a causa da baixa remuneração ou será que a quantidade de médicos é que é o problema? A velha lei da oferta e da procura...
Aproveito e incluo mais uma informação: o Brasil já tem tantas faculdades de medicina quanto os EUA. E mais: formam-se cerca de 5000 médicos por ano, enquanto se abrem 2500 vagas para residência.
Concordo que os maus profissionais devem ser corrigidos, mas não entendi a relação de causa e efeito.
Um abraço,
André.
Infelizmente o médico não é mais aquele ser altruísta que escolhia a profissão por amor ao próximo, para minimizar o sofrimento do outro...
Claro que isto não é uma regra, mas é uma tendência, uma realidade atual.
Então, os que veem na profissão uma forma de ganhar dinheiro, se dão mal devido às baixas remunerações...
E os que escolhem a profissão por vocação acabam por serem sugados, pois a demanda é imensa e quando descobrem que um médico é bom, haja fila de espera...
Isto teria que ser mais discutido na classe médica para que se dessem maior valor em todos os sentidos, tanto monetário quanto de responsabilidade, princípios éticos...
Mas na Saúde a queda de padrão não é só dos profissionais médicos, mas de toda a Saúde Pública, Privada, bem como de Políticas de Saúde mais honestas e eficientes.
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