Esta é pros meus amigos do Acampamento PV, nos idos da década de 60...
Fechem os olhos, que vocês enxergarão o Ciro no palco, declamando:
ORÓS
A chuva chegou , devagarinho,
como quem não vai ficar.
Deu um banho de chuveiro
no cajueiro menino
lá da porta do curral.
Zefa ria de contente;
meu filho pôs-se a chorar.
Peguei Raimundinho de ano
e botei lá no balanço
da rede de buriti…
Ficou pra lá… e pra cá…
Miado de gato com fome ,
a rede pôs-se a miar.
“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais!”
“- Deixa chover, Zeferino.
O teu boi morreu de sede.
Morte, chuva não traz”.
“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais!”
E choveu o dia inteiro.
E choveu a noite inteira.
“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais”!
“- Deixa chover, Zeferino.
O teu boi morreu de sede,
afogado na poeira
que o sol jogou no sertão.
Plantamos e não colhemos,
pois a seca disse:- Não!
E, quando a chuva chega,
tu ficas a reclamar ?
Não pode mesmo ser muito
quem nunca vem pra chegar…”
“- Olha Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais.
Vamos pegar o menino
E botar o pé no mundo
Que isto não é vida não.
A gente escapa da seca
Vai no dilúvio afogar ?
Zefa, junta os teréns e o Raimundo,
Vamos tocar o pé no mundo,
Vamos embora do sertão.
Esta terra é maninha
E é madrasta também.
Zefa, junta os teréns,
Jaguaribe-jararaca
“ta” virando sucuri;
desde que me entendo por gente,
chover assim nunca vi!”
“- Deixa chover, Zeferino.
Vamos ter canjica nova,
vamos plantar arrozal;
vamos engordar um porquinho;
paçoca, pamonha, pão…
Vamos aumentar a família:
um Raimundinho só não dá!
E quando os meninos crescerem,
A Zefa vai descansar…
Deixa chover, Zeferino…”
E veio a enchente bravia:
levou a casa da Zefa,
levou a Zefa afogada
e o Raimundinho também,
por estes mundos de Deus…
Abriu uma estrada, um caminho,
de sofrimento e de dor…
E, sem Zefa, sem rancho,
sem Raimundinho, sem nada,
o Zeferino, na estrada
segue falando sozinho:
“Zefa, Zefa, Zefa,
está chovendo demais…”
6 comentários:
Poema triste e belo. A propósito, vim deixar seu Bom 2011 e um abraço virtual.
QUEM É O AUTOR DESSE POEMA?
OUVI A DECLAMAÇÃO DESSE POEMA FEITA POR DECIO BITTENCOURT EM 1965.
ouvi ontem no sec com Tio Barnabe e me emocionei !
O poema é de Décio Bittencourt e foi imortalizado pelo João Acaiabe, o Tio Barnabé do Sitio do Picapau Amarelo. Infelizmente ele nos deixou no inicio de abril.
Norberto Lourenço Nogueira Jr.
Isso mesmo, querido Rubinho. Também me emocionava quando o Ciro declamava esse poema - tanto no APV quanto na IPB em Casa Branca. Abração.
Vc estudou nessa época no IAE? Pq eu tbm ouvi em 65 . Me chamo Valter Dobelin
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