sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A função dos cães

Perdi a Hilda.
Minha querida pastor alemão sumiu num fim de semana que eu não estava em casa.
Ao voltar pra casa, dei início a uma busca quase frenética:
Postei um apelo no Facebook; conversei com meus vizinhos; consultei a filha - veterinária sabe dessas coisas - sobre o que fazer e ela fez uma postagem com enorme repercussão no FB; imprimi uns cartazes e os distribuí pelo bairro. Um conhecido dispôs-se a correr o bairro comigo a perguntar por ela.
No dia seguinte, 5 dias depois de sumida, a Hilda voltou pra casa. Haviam-na achado a 3 quilômetros de casa e dado água, ração e atenção até acharem o proprietário - eu.

Logo após o retorno da fugitiva, voltei aos locais onde havia deixado os cartazes e pedi para retirá-los porque a cachorra havia sido encontrada. Sem exceção, todos deram suspiros de alívio, "graças a Deus!" fervorosos e efusivos "parabéns!", "que bom!". Uma jovem balconista de loja até me disse que havia sonhado com ela e se manifestou sinceramente feliz com o desfecho.
Nos dois dias seguintes, recebi dois telefonemas e um whatspp de pessoas que haviam visto um cão parecido com a Hilda e queriam me informar. Ao saberem do seu retorno sã e salva, cumprimentaram-me pelo fato e um até diss estar rezando por mim e pela Hilda.
A mesma coisa aconteceu no Facebook: as pessoas, algumas da quais nem me conhecem direito, deram vivas pelo meu reencontro feliz com minha cachorra.

O que isto quer dizer? Como interpretar esses gestos de solidariedade? Como pode um cão provocar reações de empatia incondicionais?
Sim, porque ninguém, em tempo algum, perguntou-me qual era minha religião, ninguém pediu-me antecedentes criminais, prova de heterossexualidade, minha opinião sobre a Dilma, o Corinthians ou o funk. Na verdade, pouco se lhe importava quem eu era, o que pensava, quais eram meus valores. O importante era que EU HAVIA PERDIDO A HILDA  e isso sobrepunha-se a qualquer diferença que poderia haver entre nós. A preocupação pelo bem estar da Hilda nos fez todos irmãos.
Quase sinto pena de tê-la achado...

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