quarta-feira, 31 de março de 2010

A (in)Justiça

Apesar de ter-me afastado conscientemente de todo o alvoroço e enxurrada de notícias sobre o rumoroso "caso Nardoni", no qual o pai e a madrasta de uma menina - a Isabella - foram acusados, julgados e condenados pela sua morte, o fato não deixou de me importunar: fiquei e ainda fico matutando sobre a questão da tal "justiça".

Foi feita justiça? Como? Temos certeza que o veredicto corresponde à realidade dos fatos? Quais são os fatos? E em sendo, a condenação dos réus foi justa? Mereceriam mais? Menos? Deveriam ser absolvidos? Com quem está a verdade? Com a acusação? Com os réus, que se dizem inocentes? A verdade "está lá fora"?

O blogue Notas de Aprendiz, que me veio pelas mãos do Rondinelly, explicita minha inquietação:
Acho que estão confundindo justiça com vingança. A vingança perpetua a lógica injusta de que sempre precisa haver um vencedor e um perdedor. O que ela faz é apenas inverter a ordem no melhor estilo “um dia é da caça, o outro é do caçador”. Justiça não é transformar o pobre em rico e o rico em pobre, nem é dar a arma pra vítima atirar na cabeça de quem a matou. Nada disso é justiça; é vingança.
Além de todos os fatores bem conhecidos que impedem a efetividade da justiça - altos custos, morosidade, complexidade, corrupção, etc - a própria noção de justiça é confusa, irreal, enganosa.

O pior é que todos esses processos e condenações só nos dão uma falsa sensação de que existe a possibilidade de que a justiça seja feita, seja para quem for.

Serve-me de consolo o fato de não termos - ainda - chegado ao fundo do poço de estabelecer a pena de morte como fazem gregos e troianos (desculpe, americanos e chineses!). Mas, chegaremos lá, temo.

4 comentários:

Raquel disse...

Rubinho,eu tenho uma sensação estranha quando penso nesse "caso",parece que está faltando alguma coisa,algum detalhe,mesmo com a quantidade de provas técnicas(até uma animação para demostrar os fatos)
falta alguma coisa...honestamente,não consigo afirmar com segurança se houve justiça.

Tuco disse...

O estranho é a sensação de 'justiça' do caso Nardoni em oposição ao total desinteresse da população e da mídia com a ausência total de justiça nos casos de colarinho branco, onde encotramos os maiores dos maiores bandidos desse país se refestelando na bandalheira debaixo do guarda-chuva da impunidade.

Fábio Adiron disse...

Rubinho

A pena de morte só não foi estabelecida legalmente, de fato ela está sendo executada todos os dias nas ruas, debaixo dos viadutos, nas guerras urbanas...

AnaCris disse...

Querido Rubinho,
Fico feliz que nos tenhamos encontrado por meio de um texto que escrevi e que lhe falou à alma. Também me inqueta toda esta questão de justiça. Justiça ou vingança? Perdão ou apologia ao crime, já que o amor tudo perdoa e de antemão? Nada disso é de fácil digestão. Caminhemos, pois, nas pegadas do Generoso Carpinteiro, para quem "a porta larga" era um amontoado de sebo velho, um conjunto de respostas fáceis e prontas, e (in)verdades cristalizadas.
Muito prazer em conhecê-lo.

Ana Cristina :o)