Depois de uma quinzena maravilhosa na Bahia - Morro de São Paulo e Chapada Diamantina - aproximava-se a hora de voltar. Estávamos em Lençóis - charmosa pedra preciosa da Chapada - em pleno domingo à tardinha. Muita gente pelas ruas - estrangeiros, brasileiros, locais - nos barzinhos, nos restaurantes, nas lojinhas - ou só passeando a pé pelo calçamento antigo das vielas.
Também havia muito movimento de jovens porque uma igreja evangélica realizava ali um encontro jovem da região. Era possível ouvir a voz do dirigente e o som das músicas cantadas pelos participantes no recinto ao ar livre onde acontecia o encontro.
Eu e Elaine, sentados na sarjeta, curtíamos música brasileira cantada por um jovem em um barzinho, ao som de um violão. Outras pessoas também.
Comecei a pensar sobre a distância que havia percorrido na vida. Quando adolescente, eu participara de encontros de jovens como aquele. Pensei que devia sentir culpa por estar "curtindo" em pleno domingo em lugar de participar do "culto" religioso ali perto.
Sobrepondo-se ao meu raciocínio veio uma sensação gostosa por estar ali, uma impressão de "belonging" - de "fazer parte de" - que me aproximava do artista cantando Milton, Djavan, Gil, Marisa; me aproximava dos turistas estrangeiros que ao meu lado ouviam as canções, dos locais que serviam animados as mesas postas na calçada, dos casais que trocavam comentários alegres e apaixonados.
Eu senti que estava no lugar certo; que ali, por mais incrível que me parecesse, eu fazia o meu culto de adoração a Deus, grato pela vida, pela natureza, pelas pessoas, pela arte, pela companhia da Elaine, pelo privilégio de ter conhecido um pedacinho do céu chamado Chapada. Ficou claro que não precisava me separar, me isolar, me diferenciar, me excluir da humanidade para falar com Deus. Ele estava ali, comigo, ouvindo a música, curtindo ver as pessoas curtirem a vida com alegria e simplicidade, longe da violência, do tumulto, da ganância, da idolatria da sociedade globalizada, obcecada pela produção e pelo consumo.
Fiquei arrepiado. Estaria eu enganado? Hoje, quando relembro aqueles momentos, escrevendo este texto, ainda sinto que não. Não me enganei: Ele falou comigo e eu com Ele!
5 comentários:
Muito preocupante seus pensamentos, Rubinho, estarei intercedendo pelo irmão.
Que lindo Rubinho!!! Eu também sinto assim a minha relação com Deus.
Hoje mesmo,pela manhã,estava eu observando um casal de sabiá,fazendo a sua refeição matinal no meu pé de caqui...e senti que havia mais alguém olhando.
Fico em dúvida sobre os dois contextos. Aprendi e descobri que esses diálogos costumam render mais é na base do "entra no teu quarto...e conversa em secreto"
"Pensei que devia sentir culpa". Não é doido isso? Mesmo anos depois a idéia ainda passa pela nossa cabeça. Vou fazer como o Roger e interceder pelo irmão... pra que nem pense mais em sentir culpa.
É, Rubinho, muitas vezes me pego em algum lugar vendo algo belo e percebo que o meu coração está agradecido a Deus pela oportunidade, pela Sua companhia...
Mas igreja também faz be, principalmente o louvor!
bjs
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