quarta-feira, 23 de março de 2016

"Ida" - um filme

Assistir o polonês "Ida" é passar uma hora e meia imerso em imagens em branco e preto que te fazem perguntar: como um filme pode ter imagens tão lindas?
Mas as imagens contam uma história. Nada trágica demais, nem cor-de-rosa. Apenas uma viagem pelo passado nada glamouroso da Polônia da guerra, onde moral e humanidade foram trocadas pela sobrevivência sem esperança dos anos pós-guerra.
O filme deixa um gosto agridoce na memória. As imagens permanecem sublimes.


https://pt.wikipedia.org/wiki/Ida_(filme)



sexta-feira, 18 de março de 2016

"Reality is for a privileged class"

"É verdade, são os ricos, os privilegiados, que podem usufruir da realidade social e pedem aos outros que sejam realistas, ou seja, que tomem consciência de que devem renunciar às suas aspirações e sonhos."
(Edgar Morin, em "Califórnia", ed. SESC-SP, pg 55)

quinta-feira, 17 de março de 2016

Edgar Morin me representa!

"Tentei dizer o que para mim era o essencial, mas com uns e outros não funciono nas mesmas frequências de ondas, não sentimos e não concebemos os mesmo problemas. Meu Deus, como me aborreço."

(Edgar Morin em "Califórnia", pg 184, ed. SESC-SP, 2012)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Melhor! Melhor? ...

"Porque, como vimos, o melhor tem se mostrado con­sis­ten­te­mente insu­fi­ci­ente. O melhor nunca nos basta, e pelo menos nesse sentido tem se mostrado con­sis­ten­te­mente pior, vez após outra. Agora, que demônio nos faz con­ti­nuar a abraçar a ilusão de que uma nova melhoria, que nos custará um mundo, poderá chegar a nos satis­fa­zer?
O peso ide­o­ló­gico do termo “melhor” é para todos os efeitos o grande impe­ra­tivo cate­gó­rico da civi­li­za­ção oci­den­tal: sua supre­ma­cia e sua sufi­ci­ên­cia são a única una­ni­mi­dade no nosso universo plural, o último artigo de fé comum, sendo que não requer con­ver­são e não admite ques­ti­o­na­mento.
Como disse-me Bruce Sterling, numa conferência que ele usou para infectar-me com muitas das inqui­e­ta­ções que estou tratando aqui:
Os sucessos do pro­gresso tornam-se pro­ble­mas espi­nho­sos para a geração seguinte: não per­ma­ne­cem per­ma­nen­te­mente “melhores”. Nossos juízos de valor sobre o que é melhor são tem­po­rá­rios, intei­ra­mente limi­ta­dos à nossa pers­pec­tiva no tempo. Não existe um “melhorô­me­tro”; ninguém tem como medir a extensão, a ampli­tude e a duração de uma “melhoria”. Melhor é um juízo abstrato de valor, não uma qua­li­dade cien­tí­fica; não pode ser testado expe­ri­men­tal­mente. Ninguém sabe o que é melhor; na verdade, ninguém sabe o que é pior. É tremenda inge­nui­dade acre­di­tar que cada des­do­bra­mento tec­no­ló­gico é neces­sa­ri­a­mente um avanço.
Ou, como pon­de­rava Jung:
Recusamo-nos a reco­nhe­cer que toda coisa melhor é comprada ao preço de uma coisa pior.
Ou Jacques Ellul:
O pro­gresso não é uma ameaça à natureza, mas à liber­dade."
...
(Paulo Brabo, em "A Espada Circular" na "Bacia das Almas". Se você não ficou irresistivelmente atraído para ler todo o texto , você nunca será melhor...)

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Alhos com Bugalhos

Amiga postou no Facebook uma foto na qual atribuem ao papa Francisco afirmações religiosas MUITO polêmicas. Ela reproduz a foto e adiciona ferozes críticas à postura do papa.
Entrei, como sempre faço, na postagem original e vi que aquelas declarações estavam sob suspeita de não serem verídicas.
Comentei e acrescentei que divulgar aquela postagem era inconveniente pois corria o risco de estar espalhando uma inverdade.
A reação ao meu comentário foi, no mínimo, estranha.
Fui repreendido, tanto por ela quanto por um outra amiga, por estar "defendendo heresias" e apoiando um papa herético, líder de uma igreja herética.
Gente, o que é isso? Ajudem-me, por favor!
Estaria eu me referindo ao conteúdo das mensagens? Estaria eu dando apoio ao papa e suas pretensas "heresias"?
O que foi aquilo? Eu, de boa fé e em nome da amizade, com intuito de evitar que minha amiga passasse por "boateira", "fofoqueira", caluniadora e recebo uma avalanche de críticas como se minha intervenção fosse um ataque à amiga, uma defesa de doutrinas indefensáveis...
Meu, foi punk...
O que fiz: Despedi-me, na boa, da amiga, "sem ressentimentos" e deixei pra lá...
Fazer o quê? Estão misturando "alhos com bugalhos" e isto tem se tornado MUITO comum, infelizmente.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Reforma do Pensamento - Edgar Morin - 1

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"Todas as crises da humanidade planetária são, ao mesmo tempo, crises cognitivas."
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"Submersos na superabundância de informações, para nós fica cada vez mais difícil contextualizá-las, organizá-las, compreendê-las. A fragmentação e a compartimentalização do conhecimento em disciplinas não comunicantes tornam inapta a capacidade de perceber e conceber os problemas fundamentais e globais."
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"Nosso modo de conhecimento fragmentado produz ignorâncias globais."
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"[A reforma do pensamento] trata-se de substituir o paradigma que impõe o conhecimento por disjunção e redução, por um paradigma que pretende conhecer por distinção e conjunção."
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"Pascal: Todas as coisas sendo causadas e causantes, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas, e todas interligando por um laço natural e insensível que liga as mais distnates e mais diferentes, considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, e não menos impossível conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes."

Edgar Morin em "A Via"

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A função dos cães

Perdi a Hilda.
Minha querida pastor alemão sumiu num fim de semana que eu não estava em casa.
Ao voltar pra casa, dei início a uma busca quase frenética:
Postei um apelo no Facebook; conversei com meus vizinhos; consultei a filha - veterinária sabe dessas coisas - sobre o que fazer e ela fez uma postagem com enorme repercussão no FB; imprimi uns cartazes e os distribuí pelo bairro. Um conhecido dispôs-se a correr o bairro comigo a perguntar por ela.
No dia seguinte, 5 dias depois de sumida, a Hilda voltou pra casa. Haviam-na achado a 3 quilômetros de casa e dado água, ração e atenção até acharem o proprietário - eu.

Logo após o retorno da fugitiva, voltei aos locais onde havia deixado os cartazes e pedi para retirá-los porque a cachorra havia sido encontrada. Sem exceção, todos deram suspiros de alívio, "graças a Deus!" fervorosos e efusivos "parabéns!", "que bom!". Uma jovem balconista de loja até me disse que havia sonhado com ela e se manifestou sinceramente feliz com o desfecho.
Nos dois dias seguintes, recebi dois telefonemas e um whatspp de pessoas que haviam visto um cão parecido com a Hilda e queriam me informar. Ao saberem do seu retorno sã e salva, cumprimentaram-me pelo fato e um até diss estar rezando por mim e pela Hilda.
A mesma coisa aconteceu no Facebook: as pessoas, algumas da quais nem me conhecem direito, deram vivas pelo meu reencontro feliz com minha cachorra.

O que isto quer dizer? Como interpretar esses gestos de solidariedade? Como pode um cão provocar reações de empatia incondicionais?
Sim, porque ninguém, em tempo algum, perguntou-me qual era minha religião, ninguém pediu-me antecedentes criminais, prova de heterossexualidade, minha opinião sobre a Dilma, o Corinthians ou o funk. Na verdade, pouco se lhe importava quem eu era, o que pensava, quais eram meus valores. O importante era que EU HAVIA PERDIDO A HILDA  e isso sobrepunha-se a qualquer diferença que poderia haver entre nós. A preocupação pelo bem estar da Hilda nos fez todos irmãos.
Quase sinto pena de tê-la achado...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Homogênea e Burra


Há um movimento permanente no mundo natural em direção à multiplicidade. Rochas, plantas e animais sofrem mutações constantes que empurram o mundo rumo a uma maior diversidade. Ela é um forte suporte à manutenção da vida. Basta ver que os "vira-latas" são bem mais resistentes a doenças do que nossos cãezinhos com pedigree, certo?
Seria de se esperar que o mesmo movimento rumo à diversidade fosse aceito e recebido pela humanidade de forma natural, positiva e sem reservas. Afinal, contribui para a preservação da espécie humana.
Não é assim que acontece em sociedade. Todos temos uma forte inclinação para rechaçar o diferente e aderir ao igual, buscando sempre uma homogeneidade que, em alguns casos, seja a ser insana.
Há alguns anos escrevi um protesto contra a ditadura das cores nos automóveis. Isso porque só se viam carros pretos ou nos diversos tons de cinza pelas ruas, o que eu achava horroroso. E era difícil escapar, pois as opções diferentes eram raras.
Bem, tudo mudou e nada mudou.
Hoje, o que mais se vê são automóveis brancos. Concordo que o branco seja mais leve, claro, alegre que os famigerados tons de cinza que imperavam há pouco. Mas precisa ser tudo branco!?!?
Ah, se você pensa que o texto subentende uma aplicação em outras áreas da vida social, está certíssimo...

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Desperdício

"The most wasted of all days is the one without laughter." - Cummings

"O dia mais desperdiçado de todos é aquele sem uma risada."

sábado, 4 de julho de 2015

O que me espanta

O que me espanta

O que me espanta não é o ódio destilado nas redes sociais por todos os lados de qualquer assunto.

Não importa se vc é a favor ou contra, esquerda ou direita, liberal ou conservador, coxinha ou petralha, crente ou ateu, roqueiro ou funkeiro. As posições são defendidas com unhas e dentes virtuais e são sempre questões que defendemos apaixonadamente.

O que me espanta não são o extremismo das posturas, a veemência dos ataques a quem não compartilha 100% de nossa opinião, a superficialidade das análises.

O que me espanta é que só existam, nas mentes e corações, duas situações possíveis: certo ou errado; branco ou preto, comigo ou contra mim. Se vc não faz parte do meu time, é meu adversário; se não é meu amigo, é meu inimigo, se não concorda comigo é porque não merece minha consideração, se não tem a minha fé é um infiel...

Isso é o que me espanta. Isso é o que me aterroriza. É disso que eu tenho muito medo...

Porque ao eleger como meu adversário, meu inimigo, meu opositor quem não partilha das minhas ideias, não tenho mais interesse nenhum em conhece-lo mais, em saber suas ideias e pesar suas opiniões. Só desejo eliminá-lo, despreza-lo, desmerece-lo.

A única sociedade possível nessa situação não é uma democracia plural, e, sim, uma sociedade homogênea. É uma teocracia absolutista, um regime autoritário unipartidário, uma ditadura fascista, coisa assim.

E eu não quero viver em um mundo assim. Nem quero esse mundo para meus filhos.